Santuario do Senhor Jesus da Piedade

A Feira de São Mateus realizou-se pela primeira vez no ano de 1574. A provisão régia para a sua criação teve lugar em resposta a um requerimento da Câmara de Elvas para esse efeito, pedindo que a Câmara pudesse arrendar “os chãos em que se houverem de fazer as tendas no Rossio a quem mais der”, aplicando-se a receita na construção do Aqueduto da Amoreira. O arrendamento podia dar entre 30.000 a 40.000 réis e a construção do aqueduto, cuja obra havia começado em 1537, era primordial para os elvenses. A feira realizava-se então no Rossio do Calvário, o principal dos rossios da cidade, a que se acedia pela Porta de São Francisco, ao fundo da rua com o mesmo nome, ou pela Porta de Évora, ao fundo da Rua de Évora. O Rossio do Calvário prolongava-se desde a Igreja de Nossa Senhora da Nazaré, edificada pela Confraria das Chagas em 1592, embelezando e dando nome ao rossio, até à Igreja de São Sebastião. O rossio era munido de água pela Fonte do Cancão e pela Fonte da Alameda, ambas já inexistentes, mas também, posteriormente pelas fontes do Gorgulhão, de Santa Rita, de São Paulo e pelo próprio Chafariz do Calvário, construído pela Câmara em 1874. A Fonte do Cancão desapareceu já no século XX, substituída por um poço tapado na Avenida António Sardinha, e a da Alameda foi transferida da entrada do Jardim Municipal para a entrada do Cemitério quando este foi construído. No rossio existiam algumas casas e uma horta pertencentes ao Convento de São Paulo, à altura edificado onde hoje está a rotunda do Aqueduto da Amoreira.

Alguns anos houve em que a feira mudou de local por variada ordem, embora regressasse sempre ao Rossio do Calvário. A 7 de setembro de 1624 a Câmara deliberou que a feira se fizesse na Alameda (onde hoje está localizado o Jardim Municipal e a Avenida D. Sancho Manuel) “por assim parecer mais conveniente e a gente ficar mais acomodada”, sob condição de não se pisarem as árvores, pregarem pregos e as bestas serem retiradas logo assim que descarregarem a carga, sob pena de multa de 2.000 réis. O espaço acabou por não agradar e no ano seguinte as tendas estavam de volta ao Calvário. Em 1674 a feira realizava-se “entre a Alameda e a cerca da Horta de São Paulo e do Ribeiro do Cancão até ao chafariz”.

As epidemias foram razão de cancelamento e mudanças de espaço. 1637 é o primeiro ano em que a feira é proibida, desta vez pela chamada peste de Málaga. Em 1676 a feira celebrou-se no chamado Forte do Moinho de Vento, também denominado Obra Coroa (hoje dentro do Museu Militar), por causa da peste que grassava em Espanha. À porta da Obra Coroa, eram examinados os passaportes e fazendas a todos os visitantes para segurança da saúde pública.

Em 1683 a Feira de São Mateus realizou-se dentro da cidade ocupando toda a Praça, a Rua da Cadeia e a Rua da Carreira até à entrada da Rua de Olivença (onde se fazia o mercado) por não haver água no Rossio do Calvário e estarem secos o tanque e a Fonte da Alameda. Os moradores de Elvas estavam isentos do pagamento de imposto para montagem de tendas. Duas grandes epidemias, respetivamente de cólera e de febre tifoide, levaram também ao cancelamento da feira em 1855 e em 1884.

O Presidente da Câmara Municipal de Elvas, Ezequiel Augusto César de Vasconcelos, pretendeu a 25 de junho de 1856 que a Feira de São Mateus tivesse também venda de gado, pedindo a aprovação ao Governo Civil, o que acaba por acontecer no ano seguinte. A feira de gado realizava-se no Rossio de São Francisco, nas traseiras do aqueduto.

Apenas em 1931 a Feira de São Mateus foi transferida do Rossio do Calvário para o Parque da Piedade. A escolha não foi um acaso, pois de há muito que a feira se juntava às festividades do Senhor Jesus da Piedade e os próprios carros e carroças de mulas e carruagens de cavalo eram estacionados no parque.

Dr. Rui Jesuíno